E o porquê desse comentário? Bem, ocorreu-me um fato nas minhas últimas férias quando estava numa colônia de férias e fui convidado a jogar bilhar com uma amiga e seu neto. Claro, não sou nenhum ‘Rui Chapéu’, muito pelo contrário estou bem longe disto. Mas o básico do bilhar eu aprendi durante um longo ano de ‘internato’ no IPV. E como diz o comentarista Arnaldo Coelho: “a regra é clara” ou pelo menos acreditava que deveria ser. Ou seja, o jogo seria colocar todas as bolas na mesa e retirando-se a bola 8 (a preta) e uma após uma tacada inicial, se caísse uma bola de número par, esse jogador deveria “matar” todas as bolas pares, e conseqüentemente, seu oponente deveria “matar” as ímpares. Tudo estava indo bem, até o momento de se colocar as bolas na mesa. Pois ao retirar a bola 8, fui repreendido por essa amiga com a sentença de que “não era assim que se jogava”. Tentei argumentar, mas foi em vão! Tudo bem, respeitei o comentário e considerei este como sendo uma ‘característica regional’ para este tipo de jogo. Após, a primeira tacada do neto (que devia ter uns 8 ou 9 anos) ele matou uma bola par. Ele continuou com a jogada (como deveria ser), mas dessa vez ele acertou uma das minha (uma ímpar). Então, fui cobrar deles como é de praxe ‘a punição’ pela infração do ato, retirando de jogo a bola de menor valor que eu teria que “matar”. E mais uma vez fui repreendido ‘que não era assim que se jogava’ e que era apenas uma partidinha ‘sem importância’ e que esta poderia ser jogada de qualquer jeito.
Essa atitude me fez ligar o "PH(*)", e fazer meu humor (que já não estava dos melhores por inúmeros outros fatores) mudar de 0 a 100 rapidinho. Mas, a gota d’água se deu mesmo, quando fui fazer minha tacada e o garoto retirou o ‘bolão’ (a bola branca) de lugar e mexeu na posição de outras bolas da mesa. Aí não deu mais para segurar! Joguei o taco na mesa e falei a plenos pulmões “não dá mais! Sem o mínimo de regra não dá mais mesmo!” Além de umas outras palavras não muito educadas reconheço. Então, iniciei um novo jogo, numa outra mesa com outras pessoas. Mas desta vez, deixando bem claro antes como seria as regras do jogo.
Já em casa, e com a cabeça fria, pude analisar mais calmamente essa situação vivida e cheguei a algumas conclusões. A primeira delas é que tenho que me policiar mais no que se diz respeito ao meu auto-controle. A segunda - já que um dos oponentes do jogo era ainda uma criança - devia ter lançado mão daqueles conceitos (que considerava enfadonhos) que aprendi nas aulas de didática para criança (quando fiz o curso de licenciatura) e tentar mostrar para o neto da minha amiga que ele estava errado. Após refletir e aceitar essa ‘mea culpa’. Passei também analisar a postura da avó diante da situação ocorrida, e que tempo todo ficou me repreendendo e concordando com todas as atitudes de seu neto. Acredito que ela perdeu também, uma grande oportunidade de oferecer ao seu neto a chance de aprender sobre as regras do mundo.
Do mundo? Como assim, devem estar pensando? Sim, porque quando ela aceitava todas as vontades do neto, é como se ela dissesse à ele em alto e bom som – Tudo que você fizer será permitido nesse mundo meu neto. Ou ainda – O mundo sempre terá de aceitar tudo o que você fizer. E cá entre nós, sabemos que na verdade a coisa não é bem assim, não é mesmo!
Como sabemos nosso mundo e constituído de regras, normas, leis mutáveis ou não, padrões e estéticas a serem seguidos no nosso dia a dia quer gostamos delas ou não. Se você transgride alguma delas, deve-se saber que deverá estar pronto à pagar por seus atos. É o que nossos professores de Educação Física faziam conosco quando nos mandavam para o ‘banco’ quando fazíamos uma falta grave nos jogos ou não seguíamos as regras do jogo direito. Era como se eles estivessem nos dizendo: ‘– Ande na linha garotada! O mundo tem regras como esse jogo. E se quer se dar bem nele? Siga corretamente as regras!’ Não é a toa que os esportes são a principal forma de inserção de pessoas no meio social.
Finalizando este texto, reconheço que perdi a chance de exercer a paciência e aplicar meus conhecimentos na ocasião do ocorrido. Mas acredito também, que a minha amiga perdeu uma grande chance de incrementar a educação de seu neto. Quer seja, para chamar a atenção deste às regras da vida em sociedade, que um dia lhes serão útil e possibilitará ao mesmo que se torne um grande cidadão. Ou, simplesmente por fazê-lo aprender as regras básicas do jogo de bilhar que infelizmente ele deixou de aprender.